
engorda: a pasto ou confinado?
Qual é o melhor sistema de produção para engorda de bovinos: a pasto ou confinado?
Essa questão pode ser analisada sob diferentes perspectivas. Diversos fatores influenciam e são influenciados pelo tipo de sistema de produção animal, incluindo aspectos ambientais, sociais e comerciais. O objetivo deste texto é apresentar os pontos positivos e negativos de cada método produtivo, incentivando o leitor a refletir sobre qual sistema é mais adequado para cada modelo de trabalho e execução.
Ao longo da história, a evolução dos ruminantes proporcionou a eles um sistema digestório peculiar e extremamente eficiente, capaz de transformar células vegetais em proteínas de alta qualidade. Os bovinos foram naturalmente adaptados para o manejo a pasto. No entanto, à medida que a criação de animais passou a ter um caráter comercial, tornando-se um negócio lucrativo, surgiram alternativas para melhorar os resultados produtivos e econômicos. Esse cenário impulsionou o avanço tecnológico dos sistemas de produção, levando ao desenvolvimento e à adoção dos sistemas confinados. Nesse método, os animais têm sua área de movimentação restrita e são mantidos em potreiros, onde recebem alimentação fornecida integralmente no cocho.
Compreender os fatores que impulsionaram o crescimento da pecuária global — que deixou de ser uma atividade de subsistência para se tornar um setor altamente rentável — permite uma melhor análise dos principais pontos positivos e negativos dos sistemas de terminação de bovinos de corte.
Como mencionado anteriormente, os critérios de avaliação são diversos, dada a complexidade do tema e da atividade pecuária como um todo. Os aspectos discutidos a seguir têm como base pesquisas científicas e a análise do autor, buscando sintetizar as informações de forma clara e objetiva.
Bovinos Produzidos a Pasto:
Pontos Positivos
- Contribui para o controle e a preservação da biodiversidade (ambiental).
- Normalmente apresenta menor custo de produção em comparação ao sistema confinado (comercial).
- Possibilita uma maior capacidade de sequestro de carbono pelos pastos (comercial/ambiental).
- Reduz a emissão de óxido nitroso (N₂O) proveniente dos dejetos devido à menor concentração (ambiental).
- Tende a ser uma atividade menos estressante, proporcionando maior bem-estar aos animais (social).
- Produz carne com gorduras de melhor qualidade, apresentando uma melhor proporção de Ômega-6/Ômega-3 e maior quantidade de ácido linoleico conjugado (CLA) (social).
- Transmite a ideia de uma carne mais sustentável, com animais criados livres e maior nível de bem-estar animal (social/comercial).
- Bovinos a pasto reciclam entre 92% e 95% dos nutrientes ingeridos, promovendo a retroalimentação do solo (ambiental).
Bovinos Produzidos a Pasto:
Pontos Negativos
- Maior emissão de N₂O devido à adubação das pastagens (ambiental).
- Necessidade de áreas mais extensas para a produção de alimento (ambiental/comercial).
- Tempo de produção mais longo até o abate, devido ao menor ganho de peso médio e ao menor controle sobre a nutrição e a sanidade animal (comercial).
- Por demandar grandes áreas, pode contribuir para a abertura de florestas em algumas regiões (ambiental/social).
- Exige menos mão de obra em comparação ao confinamento, reduzindo a oferta de empregos (social).
Bovinos Produzidos em Confinamento:
Pontos Positivos
- Menor emissão geral de gases pelos bovinos devido ao menor tempo de vida (ambiental).
- Menor perda energética na forma de metano, devido a uma dieta mais concentrada (comercial/ambiental).
- Utilização de áreas reduzidas para a produção (comercial/ambiental).
- Baixa influência no desmatamento florestal (social/ambiental).
- Maior comercialização de insumos, gerando um giro econômico mais intenso (comercial/social).
- Maior demanda de mão de obra, o que resulta em uma maior oferta de empregos (social).
- Maior capacidade de controle da produção, permitindo melhor gerenciamento da nutrição e sanidade animal (comercial).
Bovinos Produzidos em Confinamento:
Pontos Negativos
- Custos de produção mais elevados (comercial).
- Baixa capacidade de sequestro de carbono (ambiental).
- Maior concentração de dejetos, levando a um aumento na emissão de N₂O (ambiental).
- Possibilidade de produção de carnes com menor qualidade de gordura e com um sabor peculiar devido à alimentação baseada em grãos (comercial/social).
- Maior emissão de gases associada aos processos de fabricação de rações (ambiental).
É fato que os sistemas de produção tendem a se tornar cada vez mais tecnificados ao longo do tempo, visando aumentar a produtividade, melhorar as margens e tornar os negócios financeiramente mais sustentáveis. Também é fato que produtores, técnicos e demais elos da cadeia, ao assumirem o compromisso de alimentar a população, devem fazê-lo da forma mais consciente possível, respeitando os animais e preservando a biodiversidade. Todo processo ou negócio que alia produtividade, lucro, conservação e sustentabilidade está propenso ao sucesso. Esperamos que este breve texto tenha contribuído para reflexões e decisões positivas em prol da pecuária de corte.
Referências
FRANCISCO, Vanessa Cristina. Análise de compostos voláteis em carne bovina. 2016.
LOBATTO, José Fernando Piva. Carne saudável para consumidores brasileiros e estrangeiros. 2013.
SAKAMOTO, Leandro Sannomiya. Intensidade de emissão de gás metano de bovinos Nelore terminados a pasto e cruzados em confinamento. 2018.
PEREIRA, Luiz Gustavo Ribeiro. Emissão de gases de efeito estufa na pecuária – uma análise ambiental e conceitual. 2015.
PRIMAVESI, Odo. Metano entérico de bovinos leiteiros em condições tropicais brasileiras. 2004.
LIMA JUNIOR, Dorgival Moraes de. Alguns aspectos qualitativos da carne bovina. 2011.